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Balanço da Gestão

Apesar da crise, gestão Kassab garantiu competitividade

Em entrevista, João dos Anjos, diretor do Observatório Nacional diz que gestão de Kassab garantiu investimentos importantes para melhorar a competitividade.

noticias | 31 janeiro 2019

Gestão Kassab garantiu investimentos para melhorar a competitividade

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Se manter como instituição científica de reconhecida competência por 191 anos é uma missão quase impossível na América Latina. Quase. O Observatório Nacional (ON), instalado no Rio de Janeiro, é um exemplo de determinação desde sua fundação, em 15 de outubro de 1827, pelo imperador Dom Pedro I. De lá para cá, muita coisa mudou no Observatório Nacional, que se destaca também pela missão de determinar a Hora Legal no Brasil, estabelecida por lei no ano de 1913. Hoje, o serviço é gerado a partir de um conjunto de nove relógios atômicos que contribuem também para a escala de tempo mundial oficial.

Como instituto científico ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Observatório tem ainda outras atribuições. Segundo seu diretor João Carlos Costa dos Anjos, físico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrado e doutorado em física teórica pela Universidade Paris, o ON é responsável por três redes nacionais: Sismográfica, Gravimétrica e Geomagnética, e esse conjunto de atividades fornece um conjunto completo de informações geofísicas sobre o território nacional.

Na entrevista a seguir, João dos Anjos afirma que a atuação do ON está cada dia mais fortalecida com a entrada em operação do Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica, em Pernambuco, dedicado à pesquisa de pequenos corpos do Sistema Solar. A iniciativa integra o Brasil aos programas internacionais de busca e seguimento de asteroides e cometas em risco de colisão com a Terra.

Mesmo com as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país, o Observatório avançou nos últimos anos, conseguindo até fazer investimentos importantes para melhorar a competitividade de seus laboratórios e buscando parcerias com o setor privado. Para João dos Anjos, a gestão do MCTIC que teve à frente o ministro Gilberto Kassab, a qual qualifica como “excepcional”, teve sensibilidade e soube dialogar com os institutos de pesquisa, atendendo as necessidades de cada um. O aprendizado que ficou, segundo o diretor do ON, foi que “em um momento de crise, a flexibilidade e uma boa equipe de gestão como a que tivemos podem ajudar a superar obstáculos que à primeira vista parecem intransponíveis”.

Veja a entrevista a seguir:

O Observatório Nacional (ON) é o mais antigo centro astronômico em funcionamento da América do Sul, e há mais de 150 anos é reconhecido internacionalmente pela mais alta precisão e disseminação da Hora Legal Brasileira, ou a “Hora Certa do Brasil”. Poderia comentar sobre este papel?

Efetivamente, o ON é uma das mais antigas instituições científicas do Brasil. Proclamada a Independência, o Brasil precisava criar suas próprias instituições para prestar serviços essenciais ao país. Neste espírito foi criado o Observatório Nacional, em 1827, por D. Pedro I. Determinar a Hora foi uma de suas primeiras missões do Observatório Nacional, confirmada por lei em 1913 que estabelece o uso da Hora Legal no Brasil. Desde então, o ON é responsável por gerar, conservar e disseminar a Hora Legal Brasileira, que hoje é gerada a partir de um conjunto de nove relógios atômicos que contribuem também para a escala de tempo mundial oficial, o Tempo Universal Coordenado, UTC. Além de ser responsável pela Hora Legal, o ON mantém dois importantes serviços na área de metrologia em tempo e frequência: a Rede de Sincronismo à Hora Legal Brasileira, que permite a instituições públicas ou privadas se sincronizarem com a Hora Legal Brasileira e o Carimbo de Tempo Certificado à Hora Legal Brasileira que insere em documentos eletrônicos a data e a hora legal brasileira em formato digital. Esses serviços contam com a parceria de diversas empresas usuárias e prestadoras de serviços.

As pesquisas astronômicas e levantamentos geofísicos feitas pelo ON elevam o nível dos pesquisadores e cientistas no Brasil. Como o sr. vê o estágio atual dessas ações?

Na área de Astronomia, o ON tem dado sequência a várias colaborações internacionais e participado de levantamentos astronômicos como o “Dark Energy Survey”, que tenta entender as misteriosas Energia Escura e Matéria Escura, componentes do Universo que se sabe existir, mas de origem ainda desconhecida. Já no “Sloan Digital Sky Survey”, grupos do ON se dedicam a estudar o centro da Via Láctea, região dominada por um imenso buraco negro e nuvens de poeira cósmica, mas que guarda informações preciosas sobre a origem de nossa galáxia. O ON participa também do projeto J-PAS, em colaboração com grupos de pesquisa espanhóis e do IAG-USP, tendo contribuído para o projeto com a construção da câmara CCD dos telescópios. Já está em andamento o estudo do universo local, por meio dos levantamentos astronômicos J-Plus e S-Plus, o primeiro cobrindo parte do hemisfério norte e o segundo parte do hemisfério sul. Além dessas iniciativas está também em plena operação o Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), em Pernambuco, de operação remota, dedicado à pesquisa de pequenos corpos do Sistema Solar. Esta iniciativa integra o Brasil aos programas internacionais de busca e seguimento de asteroides e cometas em risco de colisão com a Terra e fortalece a atuação nacional do ON. Para finalizar cabe lembrar que o ON sedia o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – INCT do e-Universo, único INCT da área de Astronomia entre os cem aprovados pelo CNPq em todas as áreas do conhecimento. Na área de Geofísica, o ON é responsável por três redes nacionais: a Rede Sismográfica Brasileira, a Rede Gravimétrica Brasileira e a Rede Geomagnética Brasileira. Estas redes são formadas por estações espalhadas por todo o Brasil e que fornecem importantes informações geofísicas sobre o território nacional que são usadas por empresas que fazem prospecção geológica no país. O ON é também referência metrológica na área de Gravimetria e Geomagnetismo, fazendo calibrações de gravímetros, bússolas aeronáuticas e em outros instrumentos. Na Geofísica podemos ainda destacar o Laboratório Multiusuário “Pool” de Equipamentos Geofísicos, cujo uso dos equipamentos é aberto à comunidade científica, e a parceria de diversos laboratórios do ON com empresas da área de Petróleo e Gás para estudos geofísicos das bacias sedimentares brasileiras. Só em 2018, foram firmados contratos que superaram a casa dos 8 milhões de reais com empresas como a Petrobrás, Shell, BP e Sinochen, entre outras.

O ON trabalha também a capacitação de professores para que estes se transformem em multiplicadores de informações científicas para os alunos e à população em geral. Falta popularização da ciência no país?

Uma das missões do ON é a formação de recursos humanos de alto nível nas suas áreas de atuação. Neste quesito, o grande destaque foi o resultado da última avaliação da CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] que elevou o conceito da Pós-Graduação de Astronomia de 5 para 6 e da Pós-Graduação de Geofísica de 4 para 5, além dos prêmios de melhor tese de doutorado que obtivemos nas duas áreas. Estes resultados traduzem o grande esforço que vem sendo feito para intensificar e aperfeiçoar a formação de jovens pesquisadores. Na área de popularização da ciência, o ON organizou, no Museu Histórico Nacional, uma exposição em 2017, ano que a instituição completou 190 anos, sobre sua história e também sobre suas atividades atuais e descobertas recentes feitas pelos pesquisadores do ON. A exposição e também a revista publicada sobre a mesma alcançaram grande sucesso. Já nos últimos três anos, graças ao apoio do MCTIC, o ON organizou em seu Campus a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – SNCT, em parceria com as outras Unidades de Pesquisa do Ministério localizadas no Rio de Janeiro. Foi uma iniciativa de grande sucesso e que trouxe cerca de 5.000 jovens a cada edição, a maioria de escolas públicas da cidade e municípios vizinhos.

“Classifico a gestão do MCTIC como excelente ou mesmo excepcional. Não fez cortes lineares e soube analisar a situação de cada Instituto, atendendo suas necessidades básicas e permitindo alguns investimentos em áreas estratégicas para a instituição.”

Quem devem ser os responsáveis por maior acesso dos brasileiros à ciência? O MCTIC faz sua parte?

Bem, certamente a responsabilidade maior deve ser dos ministérios da Educação e da Cultura. Entretanto, considero que o MCTIC faz muito bem a sua parte por meio de editais promovidos pelo CNPq e pela FINEP e pela organização da SNCT, a nível nacional.

Um dos grandes desafios do ON foi manter seus serviços em dia com a crise econômica dos últimos anos. Como foi administrar com menos recursos? O que dá para aprender em momentos como esses?

Realmente a crise econômica teve um impacto grande em várias áreas, inclusive no orçamento global do MCTIC. Porém, a Secretaria-Executiva e a equipe de gestão da diretoria das Unidades de Pesquisa tiveram a sensibilidade de examinar as demandas dos Institutos de Pesquisa e fazer os remanejamentos necessários dentro do orçamento global do Ministério, para que as Unidades fossem atendidas nas suas necessidades. Cito aqui, como exemplo, o caso do LNCC que, com a compra do supercomputador Santos Dumont, teve seus gastos com manutenção da infraestrutura muito aumentados e que recebeu todo o apoio necessário do MCTIC, com suplementação orçamentária, para que não houvesse uma paralisação dos serviços e que a instituição pudesse continuar seus projetos de pesquisa. Afinal, não dá para comprar um supercomputador e deixá-lo parado por não ter recursos para pagar a conta de energia… O que dá para aprender num momento desses é que flexibilidade e uma boa equipe de gestão, como a que tivemos, podem ajudar a superar obstáculos que, à primeira vista, parecem intransponíveis.

Como o sr. classifica a gestão do Ministério encerrada recentemente, levando-se em conta que os recursos contingenciados pela equipe econômica foram repassados integralmente ao ON?

Classifico a gestão do MCTIC como excelente ou mesmo excepcional. Não fez cortes lineares e soube analisar a situação de cada Instituto, atendendo suas necessidades básicas e permitindo alguns investimentos em áreas estratégicas para a instituição, graças à liberação de recursos contingenciados.

Houve liberações adicionais ao Observatório nos últimos dois anos e meio?

Posso dizer que nesse período, graças a recursos descontingenciados e outros mais recebidos por meio de Termos de Execução Descentralizada, mantivemos nossa infraestrutura funcionando e ainda conseguimos fazer investimentos importantes para melhorar a competitividade de nossos laboratórios e buscar parcerias com o setor privado. Realmente só posso agradecer e elogiar o profissionalismo e a visão esclarecida da equipe de gestão do MCTIC.

Quais as ações e projetos do ON para os próximos anos?

Pretendemos executar as ações previstas no nosso Plano Diretor 2017-2021. Entre elas, podemos citar na área da Geofísica a acreditação junto ao Inmetro dos laboratórios de Gravimetria e Geomagnetismo e o aumento das parcerias com empresas privadas na área de Petróleo e Gás. Na área de Astronomia, daremos continuidade às colaborações internacionais na realização de grandes levantamentos astronômicos que procuram melhor entender o universo que vivemos.

Fonte: PSD