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Política

Kassab não para

Matéria no site UOL fala sobre as atividades do presidente nacional do PSD nos últimos meses. De acordo com seus correligionários, Kassab pode ser considerado alguém que "respira e vive política".

noticias | 26 agosto 2019

Kassab: político 20 horas por dia

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Matéria no site UOL fala sobre as atividades que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, vem exercendo nos últimos meses. De acordo com seus correligionários, Kassab pode ser considerado alguém que “respira e vive política”. Confira a matéria a íntegra: 

 

Gilberto Kassab tem evitado os holofotes. Alvo de processos na Justiça e de investigações, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro licenciou-se do cargo de secretário da Casa Civil do governo paulista no começo do ano. Enquanto organiza sua defesa, ele tenta colocar seu partido, o PSD, em condições de disputar uma posição ambiciosa nas eleições municipais do ano que vem: a de legenda com mais prefeitos no país.

Com recusas a pedidos de entrevistas e um comportamento sem polêmicas nas redes sociais, Kassab vem agindo com discrição nos últimos meses. Mas mantém a fama de bom articulador político. Ele tem viajado pelo Brasil para participar de encontros partidários e atrair filiados. Aliados chamam este trabalho do ex-ministro de “peregrinação” e dizem que ela se acentuou neste ano. Destacam-se entre os novos integrantes do partido o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que deixou o nanico PHS e pode tentar a reeleição em 2020, e os senadores Carlos Viana (MG), Lucas Barreto (AP) e Nelsinho Trad (MS).

“Nosso partido tem atrativos interessantes por ser um partido novo, com bom espaço de TV e rádio [nas campanhas eleitorais], uma capilaridade extraordinária e uma boa representação no Congresso”, diz Raimundo Colombo, ex-governador de Santa Catarina e integrante da Executiva Nacional do PSD.

Ponte aérea Nordeste-SP

Kassab priorizou a organização de encontros do PSD no Nordeste. Nos últimos meses, a sigla promoveu eventos com a participação do ex-ministro em Teresina, Salvador, Fortaleza, Aracaju e Recife. Mas ele também tem viajado pelo interior de São Paulo e cumprido agendas como presidente do partido em Brasília.

Na cidade de São Paulo, mantém a interlocução com o governador João Doria (PSDB). Kassab recentemente comentou sobre conversas de uma possível fusão de partidos, com PSDB, DEM e PSD. Segundo o ex-ministro, algo que dificilmente ocorrerá antes de 2022.

“Kassab é uma pessoa que respira e vive a política. Ele é 100% política, ele recebe gente no partido, em São Paulo ou em Brasília, ou na própria casa dele 20 horas. Não é 24 horas porque tem que dormir quatro horas. Isso inspira confiança [nos interlocutores] e dá a ele um conhecimento muito grande”, comenta Ricardo Patah, integrante da Executiva Nacional do PSD e presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores).

Escombros do MDB

Fundado pelo próprio Kassab em 2011, o PSD tinha o propósito de se tornar um partido capaz de exercer no cenário nacional papel semelhante ao do MDB, quase sempre fundamental para sustentar alianças em torno do governo de plantão. Isto, inclusive, foi um dos elementos da crise entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o MDB. A petista tinha Kassab em seu ministério e desejava depender menos do partido de seu vice, Michel Temer, e do ex-deputado federal Eduardo Cunha. Dilma sofreu o impeachment, e Kassab conseguiu permanecer no governo com Temer.

O PSD continuou crescendo, mas agora parece ter mais condições de consolidar sua posição. Em 2016, foi o terceiro partido que mais elegeu prefeitos, ficando atrás somente do MDB e PSDB. Dirigentes da legenda acreditam que o MDB, que costuma ser o grande vitorioso nas eleições municipais, não conseguirá manter a tradição, o que abrirá espaço para um crescimento do PSD e dos tucanos em 2022.

Na visão de integrantes da cúpula do PSD, os escândalos de corrupção, que envolvem o próprio Michel Temer, minam as forças do MDB, que elegeu 1.037 prefeitos há três anos. “A gente nota que há um enfraquecimento do MDB a nível nacional. Vai diminuir muito o número de prefeitos do MDB”, afirma o ex-deputado federal Vilmar Rocha, presidente do PSD em Goiás e outro integrante da Executiva do partido.

Uma das principais lideranças do PSD, o senador Otto Alencar diz que o MDB “acabou” em seu estado, a Bahia, depois do escândalo que resultou na prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Para Alencar, o MDB deve enfrentar uma drama parecido no Rio de Janeiro, onde o ex-governador Sérgio Cabral sofreu condenações por corrupção e está preso.

Outro indício de que o PSD ruma para ultrapassar o MDB é a situação na Câmara dos Deputados. No ano passado, o partido de Temer viu sua representação cair sensivelmente. Com isso, o PSD conseguiu eleger o mesmo número de parlamentares do adversário: 34. De lá para cá, a legenda de Kassab teve a adesão de mais dois e agora tem uma bancada superior.

O pós-bolsonarismo

Uma resolução interna deste ano determina que o PSD tenha candidaturas próprias nas cidades com mais de cem mil eleitores. Uma presença forte nos municípios é vista como fundamental para cacifar o partido nacionalmente, inclusive na eleição presidencial. Também pode fortalecer a legenda em negociações para futuras fusões com outras siglas. “A eleição municipal é o momento próprio de crescer e consolidar partidos em nível nacional. Isso terá naturalmente repercussão na eleição de 2022. Se você tem um partido forte, capilarizado, vai sentar na mesa das decisões políticas tanto a nível nacional quanto a nível estadual”, declara Vilmar Rocha.

“Vamos crescer em cima de um número que já é significativo [541 prefeitos eleitos em 2016, abaixo apenas do MDB e do PSDB]”, avalia Raimundo Colombo.

A previsão é que a disputa pela liderança em termos de prefeituras em 2020 se dará com o PSDB. Os tucanos tiveram bom desempenho em 2016, com 803 prefeitos eleitos, mas sofreram nas eleições do ano passado — acabaram elegendo somente 29 deputados federais e também estão com uma bancada menor que a do PSD na Câmara.

As “bobagens de Bolsonaro”

Os dirigentes apostam que, diferentemente do que aconteceu em 2018, políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) não conseguirão obter resultados eleitorais tão expressivos no ano que vem. Para eles, candidatos mais moderados terão chances maiores de vitória.

“Não tenho expectativa de que as pontas, direita e esquerda, terão um bom desempenho nas eleições municipais. O radicalismo não vai resolver. As bobagens do Bolsonaro estão trazendo uma série de problemas. Ele não está cuidando de absolutamente nada. Nesse momento e nas eleições do ano que vem, a moderação tem que superar a exaltação, o extremismo, o fanatismo ideológico e partidário”, analisa o senador Otto Alencar.

Para dirigentes do PSD, Bolsonaro surfou na onda do antipetismo e do radicalismo em 2018.

“A gente já percebe um desgaste muito grande [no governo], uma falta de qualidade em muitas pessoas que foram beneficiadas por esse movimento”, afirma Raimundo Colombo. Para o ex-governador catarinense, o eleitor “continuará votando em busca de uma mudança, de uma coisa nova”, mas será mais seletivo e tenderá a escolher candidatos com mais consistência.

Um partido de centro?

No começo da década, ficou famosa a frase de Kassab em que ele dizia, em uma entrevista, que o PSD não seria de direita, esquerda nem de centro. Atualmente, a legenda se assume como de centro. No Nordeste, tem alianças com partidos de esquerda, como é o caso da parceira com o PT na Bahia. No Sul e Sudeste, tende a se aproximar de partidos de direita.

“Buscamos sempre um equilíbrio de centro. Temos que buscar crescimento econômico [no país] e ao mesmo tempo isso tem de ser traduzido em inclusão social, em trabalho decente. Um crescimento com viés social”, afirma Ricardo Patah.

O partido tem oferecido cursos e palestras aos seus filiados. “A gente sente que há uma procura, uma demanda por um partido com as características do PSD”, diz Vilmar Rocha. Diante da questão prática que é o governo Bolsonaro, o partido evita o apoio direto mas tende a aprovar as pautas econômicas. Quase todos os seus deputados federais votaram a favor da reforma da Previdência. Patah, que é líder de central sindical, diz que tem tido dificuldade para ser ouvido por colegas de legenda a respeito de projetos relacionados a questões trabalhistas.

Os processos de Kassab

O presidente do PSD, que foi ministro das Cidades e também da Ciência, Tecnologia e Comunicações, responde a inquéritos e processos e está licenciado do governo de São Paulo em função disto. Segundo dirigentes do partido, ele tem evitado os holofotes para não afrontar a Justiça. De acordo com interlocutores, ele não deve se candidatar nas eleições municipais de 2020, mas cogita a possibilidade de disputar algum cargo em 2022. Em inquérito que o STF (Supremo Tribunal Federal) remeteu à Justiça Eleitoral, Kassab é investigado por recebimento de vantagens indevidas e de prestação de informações falsas para fins eleitorais. As fontes das denúncias são declarações de dirigentes da empresa JBS. Na Justiça de São Paulo, ele é réu por improbidade administrativa porque teria recebido R$ 21 milhões da Odebrecht em caixa 2. O dinheiro teria, inclusive, ajudado a criar o PSD. As investigações partiram de colaborações premiadas de executivos da empreiteira no âmbito da operação Lava Jato. A Justiça determinou o bloqueio de bens do ex-ministro. Kassab alega inocência em todos os casos. “Absolutamente tranquilo sobre sua conduta ao longo da vida pública, Kassab decidiu licenciar-se do cargo [de secretário da Casa Civil do governo de São Paulo] para se dedicar à organização e ao encaminhamento das informações solicitadas por sua defesa, que comprovarão a lisura de seus atos. Kassab reafirma sua confiança na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, e entende que quem está na vida pública deve estar sujeito à especial atenção do Judiciário”, afirma o partido em nota.

Dirigentes do PSD demonstram confiança em Kassab e dizem que os processos não preocupam a legenda. “O partido sabe que ele vai sair livre desses processos que está enfrentando. Isso não prejudica o PSD. O partido como um todo acata, respeita, respalda o trabalho dele. Não há nenhuma contenda, nenhum passivo, nenhuma divergência interna. O partido mantém um grau altíssimo de coesão”, declara Vilmar Rocha.

Fonte: UOL