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Gilberto Kassab: Diálogo e serenidade

O presidente nacional do PSD destaca a importância de o país se concentrar na busca de soluções para os problemas atuais. "Líderes, dos vereadores aos deputados e senadores, dos prefeitos aos governadores e presidente - precisam estar concentrados na sua importante missão de governar, e não em pré-eleições e sonhos de reeleição, afirma.

arquivos | 09 junho 2020

Gilberto Kassab: Diálogo e serenidade

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Já caminhamos 31 anos nos trilhos da normalidade democrática. Temos uma Constituição a burilar, reformas várias a fazer, e mais de dúzias de projetos a discutir e aprovar. E, hoje, uma prioridade clara: aplacar a fúria do novo coronavírus, derrotá-lo com orientações científicas, com uma vacina que vem por aí. Convenhamos, é bastante coisa para, ainda, ficarmos nos desgastando, estimulando embates inoportunos ou fomentando movimentos contra os poderes da República.

Temos de seguir adiante e agir com a urgência possível para enfrentar os vários problemas que estão aí e não, às vezes afoitamente, criar outros e aumentar a temperatura do debate. O país pede que dialoguemos, que lutemos a boa luta sob as luzes da Constituição e do bom-senso. Juntos, lado a lado, não como incendiários, mas como bombeiros, em busca da superação dos problemas.

As famílias, os parentes, pais, mães, filhos e amigos dos que já morreram, e dos que ainda tombarão Brasil afora vítimas da pandemia, exigem isso de nós – Legislativo, Executivo, Judiciário e sociedade. Rápido, mas sem atropelar nossas leis, instituições e princípios democráticos.  Obedecendo nossa Constituição, e sem passar por cima dos nossos valores éticos e morais. Municípios, Estados e a União esperam isso de nós.

O diálogo entre os poderes legalmente constituídos se impõe com firmeza e urbanidade, altivez e serenidade. Com equilíbrio. Não podemos – políticos, juízes, governantes – nos deixar levar por prováveis arbitrariedades ou impulsos que, enganosamente, parecem encurtar o caminho para a solução pacífica, consensual. De repente, temos pressa demais e paciência de menos. Às vezes o diálogo nos toma mais tempo, a solução demora um pouco mais. Não só na política, na administração, no julgamento. Quanto mais complexo o problema, mais intrincado o assunto, mais pressa temos. Mas “a vida é muito mais do que viver cada vez mais rápido”, já dizia Mahatma Gandhi, um líder que pregava a tolerância e a humildade.

Além de ajudar os brasileiros despossuídos e desempregados, quer pela crise econômica que já enfrentávamos, quer pela pandemia que aí está a desafiar o mundo inteiro, nossas lideranças – nas três frentes dos poderes constituídos – têm de reerguer a economia, cumprir a lei e levar o Brasil ao crescimento. Esse tripé virtuoso, vale sempre repetir, se consegue com diálogo, projetos discutidos e soluções viáveis.

Devemos, por exemplo, unidos e com transparência, aproveitar o raio-X que o vírus nos apresenta do Sistema Único de Saúde (SUS). Pensar, desde já, nas deficiências expostas, na reestruturação e fortalecimento desse importante e vital suporte para a saúde dos brasileiros. Percebemos, da mesma forma, que o ensino público precisa de investimento e modernizações urgentes, para que seus alunos, especialmente agora, tenham as mesmas oportunidades oferecidas a quem estuda na rede privada.

Esses líderes, do vereador aos deputados e senadores, dos prefeitos aos governadores e presidente – precisam estar concentrados na sua importante missão de governar, e não em pré-eleições ou sonhos de reeleição. A glória virá naturalmente se cumprirem, com a consciência das limitações constitucionais, seus deveres de construir uma sociedade mais humana, mais igual e mais justa.

O mundo novo que vem aí, e o Brasil nele, pede entendimento, participação fraterna e solidária. As grandes corporações, também vivendo as dificuldades econômicas e as agruras da covid-19, têm demonstrado responsabilidade diante dos dramas e tentado ajudar de todo jeito, de dinheiro a luvas, respiradores, álcool em gel e cestas básicas. Equipamentos, e doação de leitos a hospitais. E podem fazer mais. Nas comunidades florescem grupos, ONGS, entidades humanitárias – pessoas que, embora vivendo as dificuldades, se ajudam, se apoiam. Devem ser incentivadas, apoiadas.

Em meio a uma cruel pandemia, líderes fortes e verdadeiros – nas três frentes dos poderes constituídos – se impõem pela empatia, pela conciliação. Pela fraternidade, e pelo respeito às leis. Não pela coerção, que só estreita o campo do diálogo.

Os chefes dos três poderes, com a legitimidade que os cargos lhes conferem, podem e devem tomar a iniciativa de unir esforços, ouvir as lideranças, formar uma grande força-tarefa para discutir soluções e caminhos para planejar a reconstrução do que vem depois da pandemia. É um renascer que vai exigir, desde já, muita energia e espírito público.

Não é uma crise brasileira que temos pela frente. É uma crise mundial. Juntos, unidos, com responsabilidade e equilíbrio, temos competência para enfrentá-la e vencê-la.