Os 60 mais poderosos
Os 60 mais poderosos do País - iG
Em 2013, uma série divulgada pelo iG escolheu as 60 figuras mais poderosas do País. O ranking “radiografa o poder e a influência econômica, política, midiática e social de grandes nomes da República”, de acordo com o site. Na lista, o ex-prefeito Gilberto Kassab que recebeu a 57ª colocação, é citado como um “político carismático” que “costura arranjos e atua nos bastidores da política com discrição e eficiência”.
arquivos | 01 setembro 2013
Os 60 mais poderosos do País
Gilberto Kassab
57
Entre suas medidas mais conhecidas e elogiadas, está a “Cidade Limpa”, projeto que proibia anúncios em outdoors dentro da capital paulista, como forma de conter a poluição visual
iG São Paulo
Na complexa, voraz e assimétrica coligação de partidos políticos para as eleições de 2014, o redivivo PSD (Partido Social Democrata) tem um papel decisivo. A nova filiação, que reutiliza o mesmo nome do partido criado em 1945 à sombra de Getúlio Vargas pelos interventores Benedito Valadares, de São Paulo, e Amaral Peixoto, do Rio de Janeiro, apresentou-se em defesa do direito à propriedade, da liberdade de imprensa e da livre iniciativa. Com o discurso liberal e a adesão de políticos e empresários brasileiros, o partido conquistou, em 2012, 48 cadeiras na Câmara Federal e 494 prefeituras, tornando-se a quarta potência do país, logo atrás do PMDB, PSDB e PT. Nada mal para um “novato” de apenas dois anos de criação.
À frente desse jovem partido está um paulistano de 52 anos que fez carreira na política em partidos conservadores. O engenheiro, economista, solteiro e são-paulino Gilberto Kassab começou na vida pública aos 25 anos, no Fórum de Jovens Empreendedores da Associação Comercial de São Paulo. Com uma carreira que soma cargos políticos a atividades empresariais, este filho de um imigrante libanês ainda estudou Ciência Política na Universidade de Brasília e cursos de especialização em Comércio Exterior e mercado imobiliário. Quatro anos depois já fazia parte da equipe da campanha presidencial de Guilherme Afif Domingos, em 1989, quando este conquistou o sexto lugar pelo Partido Liberal, com 3,2 milhões de votos. “Gilberto era o meu faz-tudo. Organizava a agenda, programava as viagens, cuidava do programa de televisão e fazia a arrecadação dos recursos para a campanha”, chegou a elogiar Afif Domingos.
Em 1992 Kassab foi eleito pelo mesmo PL vereador em São Paulo. Três anos depois migrou para o Partido da Frente Liberal (PFL), onde se tornou vice-presidente da sigla em 1996. Foi ainda deputado estadual, de 1995 a 1999, secretário de Planejamento no governo do prefeito Celso Pitta em São Paulo, a partir de 1997. Dois anos depois foi empossado no primeiro de dois mandatos como deputado federal. Afastou-se da Câmara para concorrer como vice de José Serra à prefeitura paulistana. Com a renúncia de Serra em 2006 para disputar o governo do Estado de São Paulo, Kassab tornou-se prefeito da capital paulista.
“Quero estar habilitado a disputar a eleição de 2014”
O que era uma herança política multiplicou-se em um novo mandato em 2009, superando a ex-prefeita e candidata petista Marta Suplicy, em uma disputa emocionante. A despeito de sua popularidade depois ter feito águas com as enchentes de 2010, Kassab manteve a boa fama de gestor, com a melhor aprovação de seu governo em 2008, quando pesquisa do Ibope apontou que 61% da população considerava sua administração boa ou ótima.
Da “Cidade Limpa” ao ovo de gema mole
Entre suas medidas mais conhecidas e elogiadas, está a “Cidade Limpa”, projeto que proibia anúncios em outdoors dentro da capital paulista, como forma de conter a poluição visual. Kassab realizou ainda leilões públicos de créditos de carbono, através da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo. Para controlar a obesidade precoce e a melhor qualidade dos alimentos consumidos por estudantes, Kassab também proibiu a venda de frituras e de refrigerantes, salgados ou massas folhadas, biscoitos recheados, balas, pirulitos, gomas de mascar e quaisquer produtos de alto teor calórico nas cantinas de escolas, além de obrigá-las a vender ao menos dois tipos de frutas.
Outras, mais polêmicas, pareciam alimentar o anedotário político e o aproximaram, premeditadamente ou não, do ex-presidente Jânio Quadros. Elas incluíam a repressão a doações por motoristas de automóveis aos artistas de rua pela utilização de espaço público para lucro privado, sem autorização. Outras medidas foram tão impopulares quanto inócuas, como proibir a venda de pratos em restaurantes com ovo de gema mole, comidas de rua em geral e o uso de molho vinagrete em bares e lanchonetes da cidade. Algumas leis e portarias ganharam visibilidade pelo ineditismo, como coibir a gritaria de barraqueiros em feiras livres para anunciar seus produtos – mais tarde restrita ao uso de alto-falantes. Finalmente Kassab suspendeu a licença de quatro mil camelôs e ensaiou a proibição de caronas em motocicletas pela cidade, em uma tentativa de diminuir a criminalidade.
Em 2010, o político sofreu um duro golpe contra sua administração, com a cassação de seu mandato, do vice e de oito vereadores pela Justiça, por doações supostamente ilegais para a campanha eleitoral. No dia seguinte, porém, a cassação foi suspensa. No fim de seu governo, a avaliação da administração patinou nos piores índices desde o governo Celso Pitta. Terminou com uma reprovação de 42% dos paulistanos.
Seguindo a tradição do velho PSD
Entretanto a carreira do político, mais seguro e experiente, não apenas teve sobrevida como ganhou dimensões nacionais. Mesmo sem ser um grande orador ou um político carismático, Gilberto Kassab é, em uma palavra, eficiente. Costura arranjos políticos e atua nos bastidores da política com discrição e eficiência. Os tradicionais caciques do antigo PSD mineiro sorririam orgulhosos diante da desenvoltura de Kassab nos bastidores. Realiza maratonas em diversos estados, para apoiar candidatos locais do PSD. E tem se reunido com diversos políticos brasileiros, entre eles, o governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos, em conversas cujo teor declarado restringe-se ao protocolar “nada de política”, mas que pode ter acertado os rumos da eleição de governador em Alagoas, em uma disputa pelo passe do deputado federal Alexandre Toledo, daquele estado, e virtual candidato ao Palácio dos Martírios.
Essa ascendência releva a força de seu partido e o poder de articulação do político paulistano. E mesmo a aproximação do PDS do governo Dilma, com a criação do 34o ministério (Secretaria da Pequena e Média Empresa) para Guilherme Afif Domingos e o apoio do partido a sua reeleição submetem-se ao crivo do ex-prefeito. Desde 2011, o PSD faz coro no Congresso com as decisões do governo. Na Câmara, o apoio ocorre em 79% das votações. No Senado, chega a 94%.
Bom de cintura e de garfo
A retórica lubrificante de Kassab tem longa data e, mesmo quando ainda estava na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, nos anos 80, soube aproximar-se com habilidade do então prefeito Paulo Maluf e conseguir melhorias para a faculdade. O jogo de cintura e a inventividade deste ex-aluno do Liceu Pasteur – onde o pai foi diretor –, criado no bairro de classe média de Pinheiros, já era adivinhado por seus colegas de escola, acostumados a sua participação em peças teatrais. E confirmado por seus subalternos na prefeitura, que recebiam ordens estapafúrdias do chefe, que ligava em seguida às gargalhadas para desmenti-las.
Aluno caprichoso e amigo fiel, mantém em seu staff colegas de escola que conhece há mais de 40 anos. E jamais se distancia da família. Enquanto viveu o pai foi um amigo e conselheiro de todas as horas. E mantém até hoje uma forte relação com os seis irmãos, com quem costuma almoçar com regularidade. Bom de garfo, o agregador Gilberto Kassab também não rejeita uma cervejinha, como as incômodas papadas e barriguinha deixam revelar.
http://ultimosegundo.ig.com.br/os-60-mais-poderosos/gilberto-kassab/51f81c7ff4f5287020000002.html