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Entrevista

Kassab quer Pacheco na corrida ao Planalto e Kalil disputando MG

Líder nacional dos pessedistas, ex-prefeito de São Paulo aposta em presidente do Senado por pacificação nacional; paralelamente, palanques locais tomam forma

arquivos | 21 julho 2021

Kassab quer Pacheco na corrida ao Planalto e Kalil disputando MG

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Ex-prefeito de São Paulo e experimentado na vida pública, Kassab é otimista quando trata da chegada do parlamentar aos quadros da agremiação.

“Só há o Rodrigo Pacheco. É o nosso plano A, plano B e plano C. Sou muito intuitivo. Não trabalho com esse cenário (recusa de Pacheco em disputar o Planalto). Acho que o Rodrigo vai aceitar, sim, e será o nosso candidato”, assinala, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.

Pacheco ainda não respondeu ao convite do PSD. Kassab acredita que o senador está correto – por causa, sobretudo, das responsabilidades atribuídas ao chefe do poder Legislativo.

Apesar disso, deposita muita esperança em um desfecho positivo. Os palanques regionais, na visão dele, têm capacidade de dar sustentação à campanha nacional.

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, é visto pelo líder pessedista como fundamental para dar força à chapa em torno do senador. Ele acredita na participação do chefe do poder Executivo municipal belo-horizontino na disputa com Romeu Zema (Novo). “Será nosso candidato ao governo se quiser – e tudo leva a crer que vai querer ser”.

A polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) não assusta Kassab, que crê que os líderes dos últimos levantamentos de intenção de voto tentam descredibilizar eventual terceira via por receio de perda de votos.

Ele também não teme outras possíveis candidaturas de centro, como a de Luiz Henrique Mandetta (DEM) ou de algum representante do PSDB.

Para o presidente do PSD, o partido se diferencia dos demais em virtude, justamente, das alianças locais. “É muito difícil não ter candidato próprio. Vamos estar jogando fora todo o trabalho feito ao longo destes dois anos”.

No que tange à disputa pelo Senado, Kassab garante que a prioridade é de Antonio Anastasia, que chega ao oitavo ano de mandato no ano que vem. Se quiser, o ex-governador poderá tentar a reeleição, mas o suplente Alexandre Silveira, que comanda o diretório mineiro, pode ser opção caso Anastasia queira deixar o Parlamento.

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista com Gilberto Kassab:

Há clara polarização entre Lula e Bolsonaro. Paralelamente, o senhor não esconde o desejo de construir uma terceira via ao Planalto. O que te faz crer que uma alternativa é viável?

Existe uma polarização, mas ela está acompanhada de uma rejeição extraordinariamente alta. Seja o presidente Bolsonaro ou o ex-presidente Lula, a pré-candidatura deles vem carregada de altos índices de rejeição. Isso abre espaço para uma candidatura. Mais de 50% dos eleitores veem com simpatia uma candidatura alternativa. Essa é a razão de o PSD, até por sua história e por estar preparado, com quadros nos principais colégios eleitorais do Brasil, disputando governos e Senado, nos permitir ter um candidato, e alavancá-lo. Temos a percepção que o Brasil quer uma alternativa a Lula e a Bolsonaro. O partido, em breve, vai iniciar as consultas internas para ver qual o melhor caminho, mas já posso adiantar que minha percepção pessoal é que o Brasil precisa – e o PSD quer – de um candidato.

E o perfil é o do senador Rodrigo Pacheco. Primeiro, por representar renovação, mas com uma juventude qualificada. É um dos principais advogados do país, muito bem-sucedido. Em determinado momento, abraçou a vida pública. Se candidatou a deputado federal em uma eleição muito difícil – e, na primeira vez, venceu. Se elegeu presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o segundo cargo (mais importante) da Câmara. E, diante do bom trabalho como deputado, foi candidato a senador, se elegendo como o mais votado pelo estado, mostrando que sabe conversar com o eleitor. Depois, se elegeu presidente do Senado, o chefe do Poder Legislativo. Além de pessoa com boa formação moral, tornou-se político muito habilidoso. São credenciais fundamentais para dirigir o país e vencer as eleições. Essa é a razão de o PSD, através de mim, o convidar a se filiar e admitir uma candidatura a presidente. Sendo candidato, é fortíssimo nome; se elegendo, será grande presidente. Fará Minas Gerais voltar aos tempos de Juscelino Kubitschek.

Em que pé estão as conversas com Pacheco? O que faz o senhor crer que ele aceitará o convite para se filiar ao PSD?

Não posso falar em nome dele, que ainda não se manifestou. Até porque acho que ainda não é o momento de se manifestar. Tudo tem um tempo na política, e ele tem a enorme responsabilidade de dirigir o Senado. Tenho quase trinta anos de vida pública. Minha experiência permite entender e admitir que não é o momento de Rodrigo Pacheco responder ao nosso convite. Mas tenho plena convicção de que ele vai aceitar o convite, porque é inteligente e sabe que o Brasil precisa de alguém com o perfil dele. (Pacheco) sabe que o PSD está preparado para ter um candidato à presidência, com os palanques regionais que temos, com figuras como Eduardo Paes no RJ, Geraldo Alckmin em SP, Ratinho (Júnior, governador do PR), Belivaldo (Chagas), governador do Sergipe e tantos outros. E, em especial, Alexandre Kalil, prefeito bem avaliado, que será nosso candidato ao governo se quiser – e tudo leva a crer que vai querer ser.

Kalil é a grande surpresa da política brasileira. Revelou-se bom dirigente de futebol e fez no seu clube do coração, pelo qual é apaixonado, uma gestão muito vitoriosa. A gestão já tinha sido muito extraordinária quando o pai (Elias Kalil) dirigiu o Atlético. E foi um grande empresário. (Kalil) se consagrou como grande gestor e grande comunicador. Ele sabe falar diretamente com o eleitor; tem essa facilidade e carisma. Sinto, por tudo o que ouço de amigos e companheiros de partido em Minas, que Kalil é um extraordinário candidato. Caso vença, vai ser um grande governador, como tem sido grande prefeito. Esses palanques regionais, tendo Minas como carro-chefe, vão permitir a Pacheco ter uma base de lançamento de sua candidatura muito expressiva.

Os debates em torno da candidatura de Pacheco, como o senhor ressaltou, dependem de conversas internas. Há outros nomes à mesa como possibilidades de representação do PSD na disputa presidencial? Se ele topar se filiar, mas resolver não disputar o Planalto, o que acontecerá?

Só há o Rodrigo Pacheco. É o nosso plano A, plano B e plano C. Sou muito intuitivo. Não trabalho com esse cenário (recusa de Pacheco em disputar o Planalto). Acho que o Rodrigo vai aceitar, sim, e será o nosso candidato.

Paralelamente aos planos do PSD, Luiz Henrique Mandetta (DEM), já sinalizou a intenção de concorrer à presidência. O PSDB também cogita candidatos. Não há risco de pulverização das candidaturas do dito centro?

Tenho muito respeito por todos esses partidos, mas o PSD não tem se reunido com essas legendas porque o objetivo deles é ter um único candidato. O PSD se preparou para ter um candidato – e construiu palanques regionais. Vai ser uma retroalimentação: a candidatura presidencial vai ajudar as candidaturas dos governadores, que ajudarão a candidatura presidencial. Estamos oferecendo ao país o que há de melhor: uma candidatura como a de Rodrigo Pacheco para presidente; Geraldo Alckmin, em São Paulo; Alexandre Kalil em Minas Gerais; Eduardo Paes apoiando o presidente da OAB Nacional, Felipe Santa Cruz; Ratinho Júnior, que faz extraordinária gestão no Paraná; Otto Alencar, comandando o partido na Bahia e sabendo, com inteligência, construir o palanque adequado lá; o governador do Sergipe e tantos outros palanques regionais.

Os outros partidos – e falo de maneira respeitosa – não têm tido essa preocupação e não têm dado prioridade a essa questão. É muito difícil, para o PSD, não ter candidato próprio. Vamos estar jogando fora todo o trabalho feito ao longo destes dois anos.

O senhor disse que, se quiser, Kalil será o candidato do PSD ao governo mineiro. Como o partido avalia o prefeito de BH? Em que estágio estão as conversas para a eventual participação dele no pleito estadual?

(Kalil) tem total delegação do partido em nível nacional e estadual para construir o seu projeto. Com uma diferenciação: ele é prefeito de Belo Horizonte, muito cuidadoso e responsável, conduzindo muito bem a prefeitura nesta pandemia. Ele, em nenhum momento, vai deixar de priorizar as ações de prefeito para se dedicar a uma pré-campanha ou campanha. Esse é o Kalil, muito autêntico e de muita seriedade dirigindo BH. Mas o PSD trabalha, sim, com a hipótese de ele ser candidato. Vamos dar todo o apoio. Minas Gerais merece ter um candidato da envergadura e da dimensão de Kalil. Ele mostrou sua competência e talento à frente da Prefeitura de Belo Horizonte.

Como o partido pretende se posicionar na disputa pelo Senado em MG? Antonio Anastasia, que pode tentar a reeleição, é o candidato natural?

O prefeito Kalil já deixou claro publicamente que a aliança feita em torno do seu projeto, com Rodrigo Pacheco, Anastasia, Carlos Viana e Alexandre Silveira (suplente de Anastasia no Senado) tem um processo de decisão coletiva. Me parece que o senador Anastasia, não querendo ser candidato – tem dito que não gostaria, quer estar na vida pública com outras missões, mas não posso falar por ele, um senador de primeiríssima qualidade – o Alexandre Silveira, que foi deputado e secretário de Estado diversas vezes, muito qualificado e identificado com Minas, será a pessoa mais qualificada para assumir a condição de candidato.

Politicamente, o senhor se considera mais perto de Lula ou Bolsonaro?

De nenhum. O PSD é um partido de centro. Politicamente, o distanciamento é muito grande. Essa é a razão de estarmos defendendo uma candidatura própria, do Rodrigo Pacheco.Lula disse ontem que a 3° via é uma desculpa utilizada por partidos sem candidatos com chances de vencer. Enquanto isso, Bolsonaro afirmou que 3° via é ‘vaselina’. O que pensa dessas declarações?

Diria que torcem para que não tenha candidato. Estão no papel deles. Se eu fosse Bolsonaro ou Lula, também faria o que estão fazendo; fingindo que estão menosprezando, mas no fundo, não é fingir. Estão torcendo para que não tenha. Não sei os outros partidos, mas o PSD vai ter, sim (candidato). No momento certo. Rodrigo não é candidato e, com muita responsabilidade, está se dedicando à presidência do Senado, fazendo excelente gestão com seu perfil pacificador, conciliador e transparente. Isso é o que o Brasil precisa.Temos que virar a página de um presidente, ao ganhar as eleições, querer matar o adversário. Ou de o derrotado torcer para que o país vá mal e, aí, ter chance de voltar. O derrotado tem que torcer para que o Brasil vá bem; os bons projetos têm que ser aprovados, pois assim se conquista a simpatia do eleitor que lhe faltou para ganhar. O vitorioso tem que ser generoso, estender a mão e somar o país. Infelizmente, há muitos anos não vemos essa pacificação. Rodrigo Pacheco, pelo seu perfil, ao estilo dos bons políticos mineiros, com certeza, se elegendo presidente, vai saber unir o Brasil como, nos últimos anos, nossos presidentes não souberam.
Pacheco e Kalil se estranharam bastante na eleição municipal em 2020. No entanto, de janeiro para cá, quando o PSD acertou apoio ao senador na disputa interna do Congresso, eles se aproximaram e têm trocado elogios. O que, na sua opinião, fez o quadro mudar?

A disputa eleitoral, quando temos pessoas maduras envolvidas, se dissipa e termina quando acaba o pleito. Quando fui candidato à reeleição a prefeito de São Paulo (em 2008), enfrentei Geraldo Alckmin. Venci as eleições, ele ficou em terceiro. No segundo turno, ele foi muito correto e me apoiou. Depois, o apoiei para governador e para presidente. Hoje, há grandes chances de Alckmin se filiar ao PSD para ser candidato a governador.Não podemos deixar de registrar as diferenças entre relações pessoais, relações políticas e embate eleitoral. Eleição é uma disputa, e disputa, qualquer que seja, sempre envolve muita tensão e animosidade. Foi isso o que houve entre Kalil e Pacheco. Essa é a razão de estarem caminhando juntos hoje: os embates eleitorais ficaram circunscritos à campanha.O PSD é um partido de caráter diverso. Enquanto há figuras como Otto Alencar, duramente crítico da postura de Bolsonaro diante da pandemia de COVID-19, há parlamentares mais alinhados ao governo, como Carlos Viana (MG), vice-líder no Senado. Como a legenda equilibra, internamente, visões tão distintas?

A posição do partido é muito confortável. Apoiamos, para a presidência da República, o Geraldo Alckmin. No segundo turno, o partido liberou cada filiado para votar naquele que entendesse como o melhor candidato. Com Bolsonaro eleito, o PSD se declarou independente ao governo, como é até hoje. Essa independência permitiu a alguns deputados e senadores estarem mais próximos ao governo; e, a outros, estarem mais distantes. A convivência é harmônica e respeitosa. A partir do ano que vem, estaremos todos juntos defendendo a nossa candidatura à presidência.
Como o senhor avalia o trabalho do senador Omar Aziz no comando da CPI da COVID?

Ele tem tido uma conduta muito serena. Quem o conhece sabe disso. (Aziz) tem seus momentos de exaltação, que transmitem muita pureza e autenticidade, mas é uma gestão muito competente, respeitosa e cuidadosa. É um tema muito difícil para ser explorado e pesquisado. Infelizmente, a CPI tem identificado grandes equívocos na gestão da pandemia. Se for para ser generoso na avaliação preliminar da gestão do governo na pandemia, a gestão é uma bagunça.Qual a sua opinião sobre o semi-presidencialismo, proposta cujo debate é defendido por Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados?

Para aqueles que defendem o semi-presidencialismo – ou parlamentarismo – temos que dar sequência à reforma política aprovada em 2017. É essa reforma que vai nos permitir diminuir o número de partidos, dando mais transparência, agilidade e eficiência à gestão do Brasil. Um país que tem 39 partidos – e tínhamos isso antes da reforma de 2017 – é ingovernável. Você não consegue ter governabilidade como deve ser se não tivermos número reduzido de siglas. O ideal é que possamos chegar, ao final dessa reforma, em 2030, com sete ou oito partidos, no máximo. Aí, sim, fica viável discutir o parlamentarismo. O que não tem muito sentido é esse debate não estar atrelado ao número de partidos políticos do país.
Guilherme Peixoto
Estado de Minas – 21/07/2021