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Balanço da gestão

Gestão Kassab restaurou confiança dos pesquisadores

Para Ronald Shellard, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, gestão Kassab no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações permitiu avanços e garantiu excelente produção científica.

noticias | 14 janeiro 2019

Gestão Kassab no MCTIC restaurou a confiança dos pesquisadores

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As unidades de pesquisas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) deveriam desenvolver as ferramentas adequadas para cada uma das áreas de atuação, de acordo com padrões que nos coloquem em posição competitiva com colaboradores internacionais. Essa opinião é do físico Ronald Cintra Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), ao debater a competitividade internacional do Brasil. Para ele, o calcanhar de Aquiles da ciência brasileira é a pouca tradição em desenvolver instrumentação científica, além do baixo número de profissionais nos institutos de pesquisa em comparação à quantidade de pesquisadores, tecnologistas e técnicos nas universidades.

O pesquisador relata como ponto de atenção também a falta de recursos e o envelhecimento e encolhimento dos quadros de pessoal nas entidades científicas. Segundo o diretor do CBPF, o ideal seria de dois profissionais na universidade para cada um em institutos de pesquisas. No Brasil, com estatísticas de 2012, esta razão era 12 para 1.

Mesmo com as dificuldades financeiras provocadas pela crise econômica que o país enfrentou nos últimos anos, Ronald Shellard afirma que a gestão de Gilberto Kassab à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações foi bastante transparente em suas ações, o que induziu confiança nos diretores de institutos e permitiu cumprir os programas de trabalho de forma adequada. O diretor do CBPF explica, na entrevista a seguir, que no último ano da gestão o apoio do Ministério foi fundamental para encerrar o ano com “excelente produção científica”.

O CBPF é um polo formador de engenheiros e técnicos altamente capacitados e com experiência internacional muito acima da capacidade das universidades brasileiras, por isso é reconhecido em outros países pela sua excelência. A que se deve essa classificação?

O CBPF nasceu depois da Segunda Guerra Mundial, quando com o advento do impacto da energia nuclear, os países reconheceram o papel estruturante da ciência, inclusive como fomentadora do desenvolvimento industrial. Fomos a primeira instituição voltada inteiramente para a pesquisa no País, tendo como foco a física nuclear. O grupo fundador do CBPF é um retrato do quem é quem no país na época. Eram cientistas, intelectuais, industriais, militares e políticos. Inicialmente o CBPF foi fundado como instituição privada, porém não se sustentou nesta forma por muito tempo. O grupo que fomentou a criação do CBPF, acabou estimulando a criação de outras instituições que foram importantes na estruturação da ciência brasileira, como CNPq, CNEN, IMPA, LNCC, CAPES. Ao longo de sua história, o CBPF recebeu a visita de cientistas ilustres de todas as partes do mundo e uma parte significativa da comunidade de físicos brasileiros em algum momento passou pelo centro. Isto criou uma cultura de excelência que perdura até hoje. Os cientistas do CBPF têm uma extensa rede de colaboradores espalhados por todos os cantos do planeta. Esta excelência atraiu também estudantes de todo o mundo e, mais particularmente, da América Latina.

Este fator, uma cultura de excelência, é essencial. Temos como referência nossos inúmeros parceiros internacionais e um passado como inspiração. Por outro lado, a cultura de servir a comunidade de física brasileira estabelece um mecanismo que nos permite fugir do corporativismo autorreferente.

O objetivo principal do CBPF é de fomentador da infraestrutura de ciência e tecnologia do país. O Centro está conseguindo atingir essa meta? Por que?

O CBPF é parte da infraestrutura de ciência e tecnologia do Brasil e tem como missão realizar pesquisa básica de física e desenvolver suas aplicações. Evidentemente, quando falamos em ciência básica, está implícita a noção de que devemos ser competitivos internacionalmente, atuando na frente dos desafios científicos, em colaboração e competição com parceiros pelo mundo todo. Parte essencial de manter-se competitivo é também ter uma boa capacidade para desenvolver instrumentação científica e temos investido bastante em melhorar nossa capacidade nesta área. No entanto, este talvez seja o calcanhar de Aquiles da ciência brasileira, ou seja, temos pouca tradição em desenvolver instrumentação científica. Temos um imenso caminho pela frente, em relação a este tópico. Portanto, a resposta é que estamos longe de fomentar a infraestrutura de ciência e tecnologia de forma adequada. Um dos principais desafios para as unidades de pesquisas do MCTIC deveria ser o de desenvolver as ferramentas adequadas para cada uma das áreas de atuação, de acordo com padrões que nos coloquem em posição competitiva com colaboradores internacionais. A propósito, uma parte significativa dos processos de inovação dos países é derivada do desenvolvimento da instrumentação científica, num sentido amplo, incluindo também, ferramentas de TI, etc…

Como os institutos desenvolvem suas atividades com estrutura menor do que a necessária? Como o sr. avalia este cenário?

A infraestrutura dos institutos de pesquisas no Brasil é inadequada para o tamanho da economia brasileira, ou dos desafios científicos que tipicamente cabem aos governos abordarem. A melhor referência para sentir a extensão do problema é comparar a relação entre o número de pesquisadores, tecnologistas e técnicos nas universidades e institutos de pesquisas. Nos países com um parque científico adequado esta razão tem equilíbrio, esta razão é de cerca de 2 para 1, ou seja, dois profissionais na universidade para cada um em institutos de pesquisas. No Brasil, com estatísticas de 2012, esta razão era 12 para 1, ou seja doze profissionais nas universidades para cada um nos institutos de pesquisas. E não se pode dizer que há excesso de profissionais nas universidades. Você vai encontrar nessas estatísticas as razões do pouco impacto da ciência na inovação do país.

Em um dos seus artigos o sr. propõe se fazer a seguinte pergunta: “O que o CBPF poderia ter feito com recursos e pessoal adequados?” O sr. poderia nos dar a resposta para esta questão?

Evidentemente não há uma resposta muito clara a esta questão. Mas tomando apenas problemas práticos em que já estamos envolvidos. Primeiro melhorar nossa capacidade de desenvolver instrumentação científica, colaborando inclusive de forma muito mais efetiva com os experimentos que envolvem grandes colaborações científicas, como os do LHC, CERN, Auger, CTA, Dune e outros. Mas também, nos experimentos locais, equipando melhor os nossos laboratórios. Poderíamos ter levado avante o projeto de uma estação do CBPF no campus da Universidade Federal do Pará, cujo objetivo era prover infraestrutura, em particular, na área da nanotecnologia, para questões locais, que vão de caracterização de minérios ao do mapeamento da biodiversidade da região, com vistas a gerar biofármacos. Outra área que poderia ter sido de interesse seria a do estudo de viabilidade de gerar uma indústria para desenvolvimento de aceleradores para atuação no tratamento do câncer. São alguns dos exemplos do que poderíamos fazer.

A restrição orçamentária adotada pelo Governo Federal nos últimos anos tirou parte dos investimentos em ciência, pesquisa e inovações. Inclusive o sr. liderou um grupo que elaborou manifesto alertando sobre o perigo do corte de verbas para a ciência. O Ministério conseguiu reverter a situação e cumpriu com seu planejamento orçamentário. Nesse aspecto, como o sr. qualifica a gestão do ministério que terminou em 31 de dezembro?

Evidentemente, para uma atuação eficiente dos institutos, o elemento de previsibilidade é muito importante e já desde muitas gestões fazia bastante falta (esta previsibilidade). Na gestão que se encerrou, creio que a palavra do ministro Kassab e do. secretário executivo, Elton Santa Fé Zacarias, atuando com muita transparência, tanto ao elencar as dificuldades de forma franca, como no seu esforço explícito para cumprir o planejamento orçamentário, induziram confiança nos diretores de institutos e nos permitiram cumprir nosso programa de trabalho de forma adequada. Na verdade, já no último ano da gestão o apoio do Ministério foi fundamental, para que encerrássemos o ano com uma excelente produção científica. Portanto creio ser muito apropriado afirmar que a gestão que terminou há pouco foi bastante satisfatória, visto as dificuldades pela qual passou o governo como um todo.

A criação da Diretoria de Gestão das Unidades de Pesquisa e Organizações Sociais, a DPO, permitiu maior aproximação dos institutos com o Ministério?

Certamente a DPO foi um bom elemento no contato dos institutos com o Ministério. A escolha de pessoas com o perfil correto foi também muito importante. Um fator importante, que ajudou muito a melhorar a relação dos institutos com o Ministério, foi o fato de que os diretores das unidades tomaram o hábito de discutir seus problemas de forma mais cooperativa, ajudando a própria DPO encontrar soluções para nossos problemas. Com isso, criou-se um diálogo mais produtivo com o Ministério. Mas, enfatizo, foi essencial a escolha de pessoas adequadas para dirigir a DPO, assim como a disponibilidade do ministro e seus colaboradores imediatos para o diálogo, sempre que os problemas exigiam sua presença.

 

Fonte: PSD