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Entrevista

Kassab: ‘PSD é independente e não integra o Centrão’

O presidente do partido, Gilberto Kassab, participou do programa UOL Entrevista e falou sobre a crise vivida pelo País: defendeu o isolamento, criticou a ideia do “Estado mínimo” e algumas atitudes de Bolsonaro

noticias | 09 junho 2020

Kassab: ‘PSD é independente e não integra o Centrão’

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https://youtu.be/rx7DtobGYnw

Em extensa conversa com jornalistas nesta terça-feira (9), durante o programa UOL Entrevista, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, foi claro ao afirmar que o partido é independente, não integra o chamado Centrão e não aceita trocar cargos por apoio no Parlamento. “Com o nosso partido, não tem toma lá, dá cá”, afirmou. Kassab também defendeu a ideia de que não é mais possível apostar no conceito de “Estado mínimo”. Para ele, uma agenda liberal neste momento prejudicaria o Brasil.

Sobre o presidente Bolsonaro, afirmou que ele cometeu erros desde o primeiro momento da questão, especialmente nas trocas no Ministério da Saúde. “Desde o primeiro momento acho que o presidente erra nesta questão. Acho imperdoável o sentimento que ele passa de que não está preocupado com a vida das pessoas. Não acredito que ele seja assim, não é possível. Mas ele está errando na comunicação. Isso causa baixa estima do país, um país que tem esse pressentimento… Ele está errando na comunicação. Onde o mundo inteiro pratica o distanciamento, não é possível que só ele esteja certo”, disse o ex-prefeito de São Paulo.

Leia a seguir alguns dos principais trechos da participação de Kassab no UOL Entrevista.

PSD independente

Gilberto Kassab reafirmou na entrevista que PSD é independente, com liberdade para congressistas apoiarem ou não o presidente Jair. “Gostaria de registrar sempre uma confusão que alguns colegas de vocês [da imprensa] fazem em relação a PSD e Centrão. O PSD sempre deixou claro que não se integra ao Centrão. O PSD é um partido que tem, nos seus quadros, pessoas com total liberdade para dar seu voto com suas convicções e visões de Brasil”, afirmou.

“É evidente que temos parlamentares mais distantes e outros próximos de algumas posições do Governo — haja vista o discurso do senador Otto Alencar (PSD-BA), que é o líder do partido e fundador, e se posiciona de uma maneira muito crítica. Isso não quer dizer que todos os senadores tenham posição contrária ao governo”, disse.

“O próprio Otto votou a favor do governo em algumas vezes porque era bom para o Brasil. Os parlamentares terão total liberdade para votar contra o Governo quando projetos contrariarem visões. Nada impede que os parlamentares próximos do Governo sugiram nomes. Posso lhe afirmar que somos independentes e que o partido não integra o centrão”, acrescentou.

Sobre a possibilidade de “toma lá, dá cá” entre Bolsonaro e partidos do centrão, Kassab elogiou a postura do presidente de ter rechaçado a possibilidade em campanha. Mas diz que adotar a postura agora seria um erro. “O presidente acertou em campanha quando disse que não iria fazer ‘toma lá dá cá’. Se tiver fazendo, está errando. Com o nosso partido, não tem toma lá, dá cá. Se tiver motivos para o impedimento do presidente da República, o partido não estará contra, porque antes de mais nada está o Brasil”, disse.

“Condeno o loteamento de cargos. Espero que o presidente não esteja fazendo isso. Mas com o nosso partido, não está”, acrescentou.

Candidatura à Presidência

Kassab afirmou que o plano do PSD para 2022 é lançar candidatura própria à Presidência da República, sem coligações com outros partidos. “O nosso esforço é ter uma candidatura própria. Já selecionamos cinco nomes do partido e quem quiser pode se somar a eles. Vamos correr o Brasil levando os cinco nomes”, disse, listando os senadores Antonio Anastasia (MG) e Otto Alencar (BA), os deputados federais André de Paula (PE) e Fábio Trad (MS) e o governador Ratinho Júnior (PR) como potenciais candidatos.

Apoio a Doria

Kassab lembrou que, em São Paulo, o partido faz parte da base de apoio do governador João Doria (PSDB) em São Paulo. Kassab diz estar “100% com Doria” nas ações de combate à pandemia. “Eu sou de São Paulo. Sempre morei aqui. Nada mais natural que o partido em São Paulo — onde eu presido, mas estou licenciado — ter suas posições. Nós apoiamos o governo Doria e integramos o governo Doria. Me licenciei (do posto de secretário da Casa Civil) de acordo com o governador. Mas o PSD integra o governo. No plano nacional, que é um conjunto de decisões de todos os Estados, o partido tem uma posição de independência”, explicou.

Erros de Bolsonaro

O presidente nacional do PSD disse discordar das atitudes do presidente Jair Bolsonaro em relação à crise sanitária. “Fui contra a demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta, que fazia um bom trabalho. Não é só agora que estou me manifestando — mais uma vez discordo radicalmente e acho que esse atual ministro (Eduardo Pazuello), que não conheço, pelas informações que eu tenho, tem feito um bom trabalho. O que atrapalha são posições dos outros. Não sei no domingo, se ele foi a favor da omissão de dados, não tem meu respeito nesta questão. Mas em relação à gestão do ministério na crise, a referência que tenho é positiva. Mas o Mandetta não deveria ter sido demitido, fazia um bom trabalho”, acrescentou.

Pauta liberal

Para Kassab, a pandemia do coronavírus e seus reflexos socioeconômicos mostraram a importância do Estado. “Qualquer que fosse o gestor, teria dificuldade. Em especial o ministro da Economia, Paulo Guedes, que é liberal, e hoje, eu — que sou um pouco liberal, hoje sou menos — vejo que o discurso de Estado mínimo não funciona. Não é possível o quanto as pessoas não vejam a importância da saúde pública. Está claro que precisa investir massivamente no ensino público, está claro que estaríamos fritos se não tivéssemos o SUS, que está funcionando bem e que precisa ser melhorado”, afirmou Kassab.

“Aqueles que questionavam o SUS não questionam mais. Temos um ministro hoje que respeito e que tem feito boa gestão, mas tem que entender que suas posições têm que ser recicladas. Isso não é Estado mínimo. Com essa dificuldade toda, Guedes tem acertado. O país está em pé ainda, respirando. Acho que, entre falar se aprova ou desaprova, eu aprovo”, analisou.

Privatização

Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações entre 2016 e 2018, reforçou a necessidade de investimentos nas empresas como a Telebras, para que elas prestem serviços, especialmente longe de grandes centros. “Privatizar a Telebras é um crime. O governo brasileiro, de uns anos para cá, colocou mais de R$ 3 bilhões para levar banda larga onde operadoras não levam. É um crime. Não sei por que esse governo não continuou algo que foi desenvolvido em vários governos. Meu mérito, como ex-ministro, é pequeno, coloquei cereja do bolo, mas eu conheço o programa. Se esse governo tiver cinco absurdos, um deles é alguém defender a privatização da Telebras. Não tem custo nenhum, o satélite está pago. Agora é operação”, criticou.

Sobre os Correios, contudo, ele afirma que a discussão sobre privatização faz sentido. “Falo de boa vontade porque, na minha gestão, não deu prejuízo. É evidente que a discussão da privatização, em relação a várias atividades, faz sentido.”

Reabertura da economia

O presidente do PSD disse na entrevista que a reabertura econômica é necessária. “Acho que é inevitável você planejar a reabertura. É importante as pessoas entenderem que cada país tem sua realidade. Na Europa, onde fizeram distanciamento radical, seja para comerciante ou cidadão, na média eles têm uma poupança para viver um ano sem trabalhar. No Brasil, o cidadão comum não tem recurso pra viver um mês e meio, e o comerciante também não”, argumentou, citando um exemplo pessoal. “Recebi em casa uma delegação de comerciantes da (rua) 25 de março (em São Paulo). A 25 é o maior centro comercial da América Latina. Eles estavam em desespero. Eram muitos. Dei a palavra para todos, e tinham vários que não estavam nem com porta fechada, já devolveram as chaves. Quando fazem isso, não voltam mais. O que precisa é ter uma política de diálogo para entender o que pode e o que não pode.”

“No pico, não tem como não defender o distanciamento social. Os estudos mostram que o distanciamento funciona. Está faltando aprofundamento nas medidas. Por exemplo, o pessoal da 25: vieram com a proposta de terça, quinta e sábado só (vender) roupa masculina; segunda, quarta e sexta, só feminina. Está faltando entrar na discussão, para que a gente possa dar solução para os graves problemas das pessoas. Só não é mais grave que a saúde. Discordo de quem diz que é igual. Aprendi com meu pai que nada é mais importante que uma vida. Enquanto o distanciamento se justificar, tem que acontecer. Mas é muito importante que sejam adotados grupos de trabalho para ver soluções. Precisa entrar no varejo, as soluções estão muito globais”, completou.