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Família

Pedro Kassab, 90 anos

Pedro Kassab completaria 90 anos. Márcia Kassab falou recentemente sobre o pai numa revista da comunidade libanesa. Veja parte dessa entrevista que traz boas lembranças e saudade a toda a família.

noticias | 17 maio 2020

Pedro Kassab, 90 anos

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Neste domingo meu pai, Pedro, completaria 90 anos. Márcia, minha irmã, falou recentemente sobre ele numa revista da comunidade libanesa. Transcrevo abaixo parte dessa entrevista que traz muitas boas lembranças e tanta saudade.

A educação em primeiro lugar                                                   

Entusiasta da educação e da medicina, Pedro Salomão José Kassab tem sua trajetória registrada na Academia Paulista de Letras e nas páginas da Carta do Líbano

De origem libanesa, Pedro Salomão José Kassab foi um defensor da Saúde e da Educação, principalmente da pública. Pai de sete filhos, entre eles o ex-prefeito Gilberto Kassab, Pedro tem sua história contada nas páginas da Carta do Líbano, pela filha Márcia Kassab. “Ele sempre dizia que a educação tem prevalência sobre tudo”, destaca. “Se não tiver essa precedência, nada na frente acontece. E ele abordava o assunto em todas as suas palestras”.

Filho do libanês Salomão José Kassab, da cidade libanesa de Aabadiyeh, e da brasileira Luiza David Kassab, nascida em Poços de Caldas, MG, Pedro nasceu em 17 de maio de 1930, em São Paulo, e faleceu em 15 de setembro de 2009, mesmo ano em que foi eleito para a Academia Paulista de Letras, por várias publicações nos mais diversos setores culturais. Sua vida foi marcada por uma forte atuação na medicina e na educação, com passagens por várias associações e entidades, e premiações.

Em seus 79 anos de vida, não esqueceu de suas origens libanesas. “Em 2009, ano que morreu, foi para o Líbano acompanhado por seu neto mais velho, Pedro, que lhe deu grande sentimento de gratidão e afeto. Toda vez que o apresentava para um parente ou amigo libanês, dizia que o neto representava a quarta geração. E não escondia a alegria de poder estar visitando o Líbano com um representante dessa geração.

Ele se reuniu com várias pessoas da família por lá. Foi ao túmulo da mãe dele, que nasceu no Brasil, mas foi enterrada lá, quando foi visitar o país. E o pai, que tinha nascido lá, foi enterrado aqui”, recorda Márcia.

Pedro era o mais novo de nove irmãos: Olga, Anis, Júlia, Najla, Sálua, Fuad e Álvaro. Depois de Sálua, ainda veio José, que faleceu aos 3 anos. Todos nascidos no Brasil.

Na infância e na adolescência, de 1938 a 1944, participou continuamente do grupo teatral amador mantido pela Igreja do Calvário (Padres Passionistas).

Aos 17 anos, foi um dos primeiros colocados no exame para ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Formado em medicina em 1953, Pedro Kassab orgulhava-se de ter vários membros da família graduados na mesma instituição. Os filhos, passaram pela engenharia, pela economia e oceanografia. Dois dos 10 netos, Pedro e Marcos cursaram engenharia na escola Politécnica como os tios, e as netas Cláudia e Victoria formaram-se em arquitetura, também na USP.

Pode ser destacada em sua trajetória a sua atuação como professor. Em 1949, passou no concurso para professor de Física do Curso Oswaldo Cruz, do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP. Muito antes dos cursinhos da atualidade, Pedro já encantava os futuros calouros com suas aulas de preparação para exames vestibulares na instituição e, posteriormente, no Curso Di Tulio. “Vários médicos diziam que se não fosse por ele, não teriam feito Medicina. Durante a expectativa de entrar na faculdade, esbarravam na Física, e contavam que aprenderam tão bem com ele, que entraram na USP. Ele tinha jeito para isso”, orgulha-se Márcia.

O comunicador que encantava

Pedro Kassab era um leitor voraz, dono de prodigiosa memória e meticuloso no uso do vernáculo. Sempre brincava com os colegas, usando palavras pouco usuais. Para pedir um caderno de anotações, por exemplo, dizia calepino ou canhenho.

Graças à sua habilidade com as Letras, conquistou espaço também na imprensa. Foi responsável pela seção de Biologia e Medicina do jornal “Folha de São Paulo”, de 1956 a 1959. Também atuou como diretor, consultor ou colaborador de inúmeras publicações relacionadas às suas atividades, como a “Revista”, o “Boletim”, e o “Jornal da Associação Médica Brasileira”, da qual foi Diretor. Ainda na área de comunicação, foi membro do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR) desde sua fundação, em 1980. No 25º aniversário do Conselho foi distinguido com o título de Sócio Honorário. 

Em 1957, foi convidado a dirigir o Liceu Pasteur, um centro de convergência das culturas brasileira e francesa, em São Paulo, onde  disseram para ele: “Você fica três meses e sai”. Ele ficou mais de 50 anos. Por conta dessa atuação e de sua dedicação à Educação e à Medicina, entre outros setores, recebeu várias homenagens do governo francês e do governo brasileiro, além de várias honrarias de governos estaduais e municipais.

“Ele sabia história de tudo. Ele lia muito e gostava de compartilhar seus conhecimentos”, relata a filha Márcia. Sua relação de amigos era infindável, como com o jurista Ives Gandra da Silva Martins. A admiração e a amizade entre os dois também era motivo de orgulho para ambos. “Era uma pessoa cordata, serena, precisa na busca das soluções; sem julgamentos precipitados sobre o caráter das pessoas e os acontecimentos em geral, mas profundamente leal aos compromissos assumidos e às pessoas com quem mantinha relações de cordialidade e apreço”, destacou em citação na biografia de Pedro Kassab, publicada pela Associação Paulista de Medicina.

Ele também foi presidente da Associação Médica Mundial, de 1976 a 1977, tendo sido membro do seu Conselho, de 1975 a 1983. E de 1973 a 1998 integrou, ininterruptamente vários de seus conselhos e comissões, por vezes, presidindo-os em Ética Médica e Assuntos Médicos-Sociais e, também, Planejamento, Finanças, Estatutos e Normas.

Também foi membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, desde 1978. E, como estudante, presidiu a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz da Faculdade de Medicina da USP.

Pedro Kassab tinha um prazer enorme em achar as preciosidades das pessoas, da vida, do país, dos poetas brasileiros, como Paulo Bonfim, também membro da Academia Paulista de Letras, que faleceu em julho de 2019. “Como meu pai, a escritora Lígia Fagundes Teles também gostava de seresta. Tinha o disco, o livro e eu fazia cópia para encaminhar para ela”, lembra.

Fez muitas amizades na Medicina, na Educação e diversas outras áreas.

Seu legado continuou dando frutos. Em 2011, dois anos após sua morte, foi criado o Prêmio Pedro Kassab, concedido pela Associação Paulista de Fundações, da qual era vice-presidente. A premiação reconheceu iniciativas ligadas à defesa do saber, da liberdade individual e do bem comum, como o maestro João Carlos Martins e a Associação de Apoio à Criança com Câncer (AACC).

Um homem de família

Como bom descendente de libaneses, Pedro tinha na família o alicerce de sua vida. Pedro e Yacy, tiveram sete filhos: Pedro, Sérgio, Márcia, Renato, Gilberto, Marcos e Cláudio; e 10 netos: Pedro, Cláudia, Fernando, Ana Paula, Ana Laura, Victoria, Lucas, Luís Victor, Marcos e Vivian. “Meu pai era um pai maravilhoso. Não ficava muito tempo em casa, mas, quando ficava, jogava xadrez, conversava, via que livro cada um leu. Ele se interessava pela vida cultural da gente. Nós nem víamos televisão quase, a gente lia, jogava, fazia cursos. Era muito bom”, emociona-se Márcia.

Pedro Kassab tinha o hábito de acordar bem cedo em sua casa, localizada próxima à praça Panamericana. Era alegre, movimentada, repleta de árvores e animais domésticos (cães, gatos e pássaros). A família unida frequentava o Clube Pinheiros e, nas férias, a preferência era a cidade de Santos.

Ele gostava de ficar em casa nos finais de semana com a família, quando mais de 20 participantes se reuniam no almoço de domingo. Esmerava-se em ajudar sua esposa Yacy, também descendente de libaneses e italianos, a preparar os aperitivos e a mesa, além de contar histórias que atraíam a atenção dos presentes.

Márcia lembra saudosa das conversas com o pai e da atenção que ele dava a todos: “Ele não falava muito, mas quando falava, na hora clareava o pensamento. Ele faz uma falta danada para conversar. Uma sentença que ele proferisse já colocava o raciocínio todo no lugar. Era uma pessoa que sabia direcionar o pensamento. Talvez por isso ele fosse uma pessoa muito dada, tinha tempo para todo mundo. Ele se dispunha a atender a todos. Era uma pessoa que sempre queria ajudar.”

Ele tinha como passatempo fazer palavras cruzadas, assistir a filmes de faroeste ou jogo de futebol ou se entreter com o quebra-cabeça sudoku. Torcia para o São Paulo Futebol Clube e dizia: “Todos aqui em casa têm São Paulo nas veias e nas artérias”.

Seu filho Gilberto, na biografia publicada pela Academia de Medicina de São Paulo, disse que “ele gostava da família, não apenas da nossa família, mas da família como instituição, de todas as famílias”; que “ele acreditava em Deus, ainda que achasse que a fé na existência de Deus não poderia ser explicada por métodos científicos”; e que “ao longo de toda sua vida, destacou-se pela atenção que dispensava às pessoas. Ele era justo, amoroso… uma dezena de adjetivos não seriam suficientes para descrevê-lo”.

Antes de morrer, ele tinha ainda 3 livros em preparação , que ele dizia que tinha que escrever. “Ele já tinha os livros na cabeça. Ele tinha, um, que dizia que ia ser muito engraçado, sobre coisas pitorescas. Outro, sobre fatos. E um terceiro de 50 e poucos anos atrás, de coisas que agora estão acontecendo. Ele tinha uma visão de futuro do mundo muito boa”, conclui Márcia.