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Educação

Educação Transformadora: A Revolução Silenciosa de Gilberto Kassab em São Paulo

Durante a gestão, a cidade de SP se tornou a maior rede municipal de ensino do Brasil, com indicadores ascendentes de qualidade.

acoes-gk | 09 junho 2025

Educação Transformadora: A Revolução Silenciosa de Gilberto Kassab em São Paulo

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Durante sua gestão como prefeito de São Paulo entre 2006 e 2012, Gilberto Kassab implementou um conjunto robusto de políticas públicas voltadas à educação, cujos resultados impactaram profundamente toda a rede municipal de ensino. A estratégia adotada foi ampla e multifacetada, envolvendo desde infraestrutura escolar até valorização profissional, passando por programas de inclusão, alimentação, saúde do estudante, cultura e melhoria na aprendizagem. O trabalho realizado nesse período ganhou notoriedade pela sua escala e abrangência, com conquistas sustentadas por dados concretos, avaliação independente e reconhecimento social. Com foco em resolver problemas históricos, as ações realizadas formaram um legado que transcendeu os limites temporais de sua gestão.

Uma das prioridades centrais foi a expansão e qualificação da rede física de ensino. Desde os anos 1990, a cidade vinha convivendo com construções escolares precárias, conhecidas como “escolas de lata”, e turnos intermediários com baixa carga horária — o chamado “turno da fome” — adotados como soluções emergenciais diante do déficit de vagas. Até 2004, dezenas de escolas de lata ainda estavam ativas, e milhares de alunos eram obrigados a estudar no horário do almoço em aulas reduzidas. Kassab enfrentou esse problema com um programa ambicioso de obras que visava eliminar as estruturas improvisadas e ampliar a capacidade da rede de forma duradoura. O plano incluiu a construção de 273 novas escolas e de 25 novos Centros Educacionais Unificados (CEUs), com atenção especial às regiões periféricas da cidade, onde a carência era maior. O resultado foi a erradicação completa das escolas de lata e a quase extinção do terceiro turno escolar: de 80% de alunos do ensino fundamental frequentando o turno do almoço em 2004, esse número caiu para apenas 6% em 2012. Ao mesmo tempo, a jornada regular foi ampliada de quatro para cinco horas, garantindo mais tempo de aprendizagem e dignidade ao processo educacional.

Para além da infraestrutura, o governo Kassab protagonizou o que viria a ser a maior expansão de vagas em creches da história da cidade. A meta de universalização da pré-escola — definida nacionalmente para 2016 — foi antecipada pela administração municipal, com a inclusão de todas as crianças de 4 e 5 anos na etapa escolar e o rebaixamento da idade mínima da pré-escola para 3 anos. Isso provocou a necessidade de expandir massivamente a oferta de creches para acolher também as crianças de 0 a 3 anos, elevando a pressão sobre a rede. Entre 2005 e 2012, o número de matrículas em creches cresceu 250%, saltando de cerca de 60 mil para mais de 210 mil, com a criação de aproximadamente 150 mil novas vagas. Esse salto quantitativo foi sustentado por um orçamento que passou de R$ 170 milhões para R$ 1 bilhão ao longo do período, equivalendo a 15% do orçamento total da educação em 2012. O número de unidades também disparou: de 870 para 1.520 creches, entre diretas e conveniadas. Ainda que a demanda persistisse, principalmente entre os bebês de 0 a 2 anos, o avanço em direção à universalização foi inédito, e a magnitude da expansão forçou a continuidade da política pública nos anos seguintes. Kassab provou ser possível dar uma resposta concreta e rápida ao maior desafio da primeira infância em uma megacidade.

Consciente de que a valorização dos profissionais é indispensável para qualquer avanço sustentável, Kassab investiu fortemente na carreira do magistério. Em 2004, o salário de um professor municipal com 40 horas semanais era de R$ 1.215, valor defasado diante do custo de vida da cidade. Entre 2005 e 2012, o piso mais que dobrou, atingindo R$ 2.600 — um reajuste nominal de 114% e um ganho real de 71%, considerando a inflação do período. Além do reajuste, foram firmadas parcerias com universidades para formação continuada, promovidos seminários pedagógicos e ofertados cursos de especialização, tudo isso acompanhado de programas de reconhecimento e estímulo. Um dos destaques foi o Cartão do Educador, que oferecia 20% de desconto permanente na compra de livros. A carreira do magistério foi valorizada também no plano simbólico e emocional com a criação do programa “Valeu, Professor”, lançado em 2009 como uma celebração anual com mais de 100 eventos culturais e de lazer gratuitos para os docentes. A cada edição, dezenas de milhares de educadores participaram das atividades, e a tradição de reconhecimento foi mantida em gestões posteriores.

Outro foco essencial foi a alfabetização na idade certa. O programa “Ler e Escrever”, implantado nas turmas de 1º ano do ensino fundamental, introduziu uma medida inédita no Brasil: a presença de dois educadores por sala. Isso permitiu atenção individualizada e reforço imediato no processo de alfabetização, garantindo que as crianças aprendessem a ler e escrever ainda no primeiro ciclo. Quase meio milhão de estudantes foram beneficiados por essa iniciativa. A política foi complementada por uma estratégia de acesso à cultura por meio do programa “Minha Biblioteca”, que distribuiu gratuitamente mais de 4 milhões de livros de literatura infantil e infantojuvenil para os alunos da rede, incentivando a leitura no ambiente familiar. Com esses instrumentos, São Paulo criou as bases de um currículo mais sólido e igualitário, promovendo o desenvolvimento cognitivo desde os primeiros anos da vida escolar.

Na busca por medir resultados com mais precisão, Kassab implementou a Prova São Paulo, uma avaliação anual padronizada aplicada a estudantes da rede para acompanhar a aprendizagem em português, matemática e ciências. A avaliação era complementada pela Prova da Cidade, aplicada três vezes por ano a partir do 2º ano do fundamental, e pelo índice Indique, que considerava desempenho escolar e fatores socioeconômicos para mensurar a qualidade de cada escola. O impacto foi imediato: o IDEB dos anos iniciais subiu de 4,3 em 2005 para 5,4 em 2011, superando a meta nacional. A criação de um sistema de indicadores permitiu ações pedagógicas mais dirigidas e transparentes, consolidando a cultura de avaliação e gestão por resultados no ensino municipal.

Outro eixo transformador da gestão foi a inclusão escolar. Com o lançamento do programa Inclui, a Prefeitura adaptou fisicamente centenas de escolas, implementou salas de recursos multifuncionais, capacitou professores e ampliou a matrícula de alunos com deficiência. Ao lado disso, fortaleceu-se a noção de acessibilidade como princípio estruturante das novas unidades, fazendo com que todas as escolas inauguradas já fossem concebidas para atender a alunos com mobilidade reduzida ou outras necessidades específicas. Em pouco tempo, a cidade se tornou referência em educação inclusiva, com relatos de transformação nas práticas pedagógicas e na cultura das comunidades escolares.

A atenção à saúde e ao bem-estar dos estudantes também foi contemplada. O programa Aprendendo com Saúde capacitou professores do 1º ano para realizar triagens visuais em seus alunos, identificando precocemente casos de acuidade visual reduzida. O programa atingiu a totalidade das crianças matriculadas no 1º ano e contribuiu para diagnósticos precoces e correções que impactam diretamente o aprendizado. No campo da nutrição, Kassab reformulou a licitação da merenda escolar, reduzindo os custos em 22% e garantindo refeições com maior valor nutricional. O programa Leve Leite, por sua vez, passou a entregar leite integral nas casas de 845 mil alunos, substituindo o modelo anterior e liberando os professores da função logística de distribuição. Essa logística domiciliar foi considerada pioneira e manteve-se como política pública ativa nas gestões posteriores.

Durante os períodos de férias escolares, o Recreio nas Férias oferecia atividades esportivas, culturais e recreativas em escolas e CEUs para mais de 50 mil crianças por edição, muitas delas vindas de famílias em situação de vulnerabilidade. Essa programação atuou como complemento educacional e instrumento de proteção social em um momento do ano em que muitas crianças ficariam expostas à rua ou isoladas em casa.

O financiamento robusto foi o alicerce de toda essa engrenagem. O orçamento da Secretaria Municipal de Educação saltou de R$ 766 milhões em 2005 para R$ 7,3 bilhões em 2012, e o gasto total da Prefeitura em educação passou de R$ 3,6 bilhões para R$ 8,1 bilhões. Essa elevação, acima de 800%, garantiu a execução de um conjunto de políticas públicas articuladas, eficientes e sustentáveis. A cidade de São Paulo, nesse período, tornou-se a maior rede municipal de ensino do Brasil, com indicadores ascendentes de qualidade e com uma estrutura educacional que segue ativa até os dias atuais.

Com isso, a gestão de Gilberto Kassab consolidou-se como um marco histórico na política educacional da cidade. A combinação entre expansão física, valorização docente, inovação pedagógica, atenção à saúde, avaliação constante, incentivo à leitura e inclusão produziu efeitos estruturais e duradouros. A cidade passou a ter uma rede pública mais equitativa, moderna, acolhedora e preparada para os desafios de um sistema educacional do século XXI. A memória desses anos revela que é possível construir um projeto educacional transformador, desde que haja visão estratégica, investimento consistente e compromisso com o interesse público.