Discurso de posse
Discurso de posse do prefeito Gilberto Kassab
Em seu discurso na cerimônia de posse como prefeito de São Paulo, em 1º de janeiro de 2009, Gilberto Kassab falou sobre sua gestão e reafirmou o compromisso de tornar a cidade melhor a cada dia, tendo como principais metas a melhoria na qualidade do ensino e dos serviços municipais de Saúde.
arquivos | 01 janeiro 2009
“Honrado, orgulhoso e feliz, tomo posse como Prefeito da cidade de São Paulo onde nasci, cresci, onde sempre vivi e onde hoje convivo com um povo maravilhoso de onze milhões de pessoas de fibra.
A cidade de São Paulo é o abrigo generoso de filhos de todos os cantos do mundo. É a maior cidade do Brasil, a maior cidade japonesa fora do Japão, a maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade nordestina fora do Nordeste e uma cidade amada por todos. Aqui, todos os paulistanos somos filhos, netos ou parentes de gente que aqui encontrou o seu lugar.
Foi assim com meus bisavós e avós, italianos e libaneses, e é assim agora com meus irmãos e sobrinhos. Como todos os paulistanos, olho com orgulho o passado e com muita esperança o futuro.
Minha geração tem muitos sonhos e sinto com toda nitidez, neste primeiro dia de 2009, que esses sonhos convergem para a missão que cabe a mim cumprir nos próximos quatro anos.
Trago na alma o sonho, tão caro à minha geração, de contribuir para a construção de um mundo melhor, mais harmônico e igualitário, no qual o desenvolvimento seja alcançado sem a degradação do meio ambiente.
Ao assumir este novo mandato de Prefeito, assumo também o compromisso de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tornar a cidade de São Paulo este ano melhor do que no ano passado; e assim também, no ano que vem e a cada ano, até o último dia de 2012.
Prometo lutar para a realização do sonho dos paulistanos que querem uma cidade mais justa, mais limpa, mais saudável, mais civilizada.
Vou lutar também para que todos os paulistanos, que dependem do poder público para a Escola de seus filhos e a Saúde de sua família, possam ficar seguros de receber uma Educação e uma medicina pública melhores a cada dia.
E me comprometo a continuar trabalhando todos os dias, de sol a sol, para que o transporte público desta cidade melhore a ponto de ser uma garantia de conforto para todos os usuários, um caminho para a redução da poluição do ar e dos transtornos do trânsito.
Vou, enfim, trabalhar duro para honrar a vontade e os sonhos dos quase quatro milhões de eleitores paulistanos que depositaram em mim sua confiança – e também dos que democraticamente votaram em outros candidatos.
Tomo posse para ser o prefeito de todos, com a consciência de que o muito que realizamos até agora é a garantia de que dispomos das ferramentas para realizar muito mais.
Hoje damos início à segunda fase de um governo que começou quando o nosso estimado governador José Serra tomou posse, há exatos quatro anos, neste mesmo local.
Neste segundo mandato, seremos o mesmo governo, assentaremos nossa ação sob os mesmos pilares de moralidade e eficiência no trato do dinheiro público.
Temos o mesmo plano de governo, revigorado agora pelos novos desafios que se colocam, depois de tantos que vencemos.
Temos praticamente a mesma equipe de governo, revigorada pela chegada de novos apoios e colaboradores, para trabalhar com os mesmos parâmetros e prioridades.
Aproveito este momento para determinar a todos os membros do governo, aqui reunidos, uma primeira diretriz que deve marcar esta administração: Transparência Total.
Vamos usar todos os recursos da tecnologia disponíveis, para que os atos da administração sejam de inteiro conhecimento da população.
Seja pela internet, ou outros meios de comunicação, tudo o que a Prefeitura fizer deverá ser posto à disposição dos onze milhões de paulistanos.
Muito especialmente, quero que todos os nossos atos e intervenções fiquem sempre disponíveis para o Ministério Público e a Imprensa, muitas vezes chamados, ambos, de “o quarto poder”, exatamente por serem os olhos da população.
Minha geração nasceu sob o signo de um Brasil campeão mundial de futebol pela primeira vez, uma seleção que tinha acabado de vencer a Copa do Mundo da Suécia, em 1958, liderada por um adolescente que logo passou a ser chamado de Rei Pelé.
Aprendemos naquela ocasião a expressão “jogar como uma orquestra”. Quatro anos depois, a seleção que seria campeã novamente, desta vez no Chile, era a mesma seleção canarinho.
O maestro, o “rei”, teve que se ausentar dos gramados, mas o time tinha a mesma espinha dorsal, todos conheciam as habilidades dos companheiros mais velhos e dos que tinham entrado para a equipe recentemente.
E assim a Seleção brasileira dos meus primeiros anos de vida reinou campeã mundial por oito anos.
Aqui, na administração municipal, vamos manter a mesma essência, a mesma inédita integração com o governo do Estado com que trabalhamos nestes últimos anos. Nossa seleção continuará jogando como uma orquestra.
Minhas amigas e meus amigos, assumo a Prefeitura de São Paulo com o suporte de quase quatro milhões de votos e com o compromisso de dar seqüência ao trabalho desses quatro anos, dessa administração iniciada pelo governador José Serra e completada por mim.
Nosso lema será o lema da campanha vitoriosa: “Não tem porque mudar”. Não vamos mudar, o rumo é o mesmo, temos a régua e o compasso que herdamos de Serra e foram aprovados pela população paulistana.
Quatro anos atrás, assumimos sob o peso da maior crise financeira jamais vista por uma administração paulistana.
A capital paulista de quatro anos atrás estava falida, tinha dado calote em 12 mil contratos, tinha deixado sem pagamento, às vezes até sem documentação contábil confiável, dívidas vencidas de curto prazo no valor cerca de dois bilhões de reais.
Neste mesmo hall monumental do Palácio Matarazzo, sede da Prefeitura, formaram-se filas com 12 mil credores que tinham que provar seus créditos, uma vez que os registros dos serviços prestados e produtos entregues tinham sido apagados.
A Prefeitura tinha apenas cinco milhões de reais no banco e dois bilhões de reais em dívidas de curto prazo vencidas.
Mesmo assim, rapidamente superamos a crise e a cidade voltou à normalidade: em pouco mais de doze meses, o déficit virou superávit. Sem passe de mágica. Sem aumento de impostos. Sem criação de taxas.
Com austeridade, com zelo pelo dinheiro público e principalmente com uma definição clara de que governar é fazer escolhas, é atribuir prioridades, conseguimos recuperar as finanças da cidade.
Hoje, pela primeira vez em muitas décadas, uma administração inicia seu mandato com todos os compromissos pagos em dia. E com dinheiro em caixa.
E chegamos a essa situação privilegiada depois de muitas realizações.
Com a Lei Cidade Limpa, resgatamos a auto-estima da população paulistana. Ante a fama de uma das cidades mais poluídas do mundo, colocamos o prestígio de primeira metrópole a dar solução total e definitiva para a poluição visual.
Resgatamos para os consumidores, e para todos os cidadãos, regiões que a pirataria e o contrabando haviam ocupado, como o Largo da Concórdia, o Largo Treze de Maio e o Largo da Batata.
Nossa cidade é hoje reconhecida, também, como a primeira metrópole que controlou as emissões de gases de seus aterros sanitários.
Com isso, São Paulo se tornou a única cidade do mundo a receber da ONU os certificados de carbono.
Colocados em leilão, os créditos de carbono resultaram numa receita de quase setenta milhões de reais, que já estão sendo usados em melhoramentos nas regiões vizinhas aos aterros.
Introduzimos um modelo de gestão moderno, atualizado com o que existe de mais avançado e eficaz.
Um governo que investe em Educação, como nunca antes se investiu, está preparando o futuro da cidade.
Um governo que cuida da saúde pública, com nunca antes se cuidou, está zelando pelo bem-estar da população.
Um governo que zela pelos transportes coletivos, com mais de um bilhão de reais para ajudar na ampliação do Metrô, corrige os erros do passado e projeta o futuro da cidade.
Esta administração quis para si a missão de recuperar o tempo perdido em muitas áreas da administração ao mesmo tempo em que prepara a cidade para o futuro.
Pensem como teria sido fácil fazer parques há 50 anos, há 40 anos, há 30 anos, quando a cidade era menor. Poderiam ter sido garantidas as áreas verdes tão necessárias hoje em dia. Em oito anos, vamos triplicar o número de parques, mas para isso temos que gastar muito mais do que no passado.
Pensem como teria sido fácil criar corredores de ônibus sem interferência, há 40 anos. Mas não, os corredores não foram feitos nem mesmo projetados. Agora cabe a esta gestão implantá-los.
Pensem como teria sido fácil prevenir a poluição visual, da água e do ar há 40 anos, quando a cidade era menos poluída.
Como essa prevenção não foi feita, temos hoje que desenvolver o esforço descomunal, que está sendo feito, para despoluir 300 córregos e implantar, a partir do zero, a inspeção veicular ambiental de uma frota de seis milhões de veículos.
Ao iniciar esta nova gestão, apesar desses sucessos e da inédita condição financeira positiva, tenho consciência de que o espectro de uma preocupante crise econômica ronda o mundo. Trata-se de uma crise que não foi gerada em nosso país, mas que cobrará de todos nós uma parte de seus custos.
Afinal, como disse o líder russo Mikhail Gorbachev, “apesar de toda a diversidade de sistemas sociais e políticos, este mundo é um só. Somos todos passageiros de uma nave, a Terra”.
Quando um pedaço dessa nave balança acolá, os efeitos são sentidos aqui e ali. Temos que estar preparados.
É preciso navegar com cautela nessas águas turvas, pois mesmo os melhores economistas divergem em seus prognósticos quanto à extensão ou à duração da crise.
Temos que estar preparados para enfrentar as dificuldades sem comprometer a nossa missão de investir na melhoria da qualidade de vida dos paulistanos.
Por isso, decidimos manter nosso programa social, principalmente Educação, Saúde e Transporte público, contendo cautelarmente os gastos em outras áreas.
Assim será até que o horizonte se torne mais claro, até que tenhamos certeza das conseqüências dessa crise para a vida de São Paulo.
Durante a recente campanha eleitoral, o cenário de crise internacional apenas se esboçava. Parecia que sua influência sobre a economia brasileira seria mínima.
Nossos adversários nos censuraram então, por manter dinheiro em caixa. Hoje fica claro mais uma vez que eles falavam como a cigarra, da célebre fábula de La Fontaine, debochando da formiga por se preocupar com os rigores do inverno.
Fomos prudentes. Somos prudentes. Mas não devemos atentar para a crise além do que manda a prudência.
Vamos trabalhar como formigas, garantindo sempre reservas para um possível inverno. Mas sem medo da crise. Vamos também buscar novas fontes de receitas.
A experiência destes primeiros quatro anos de administração, em que inovamos na geração de fontes novas de receita ao tempo em que cortávamos impostos, mostra que vamos conseguir.
Estamos agora mais preparados do que estávamos quatro anos atrás, e vamos estar melhor ainda daqui a quatro anos. Isso é possível. É a nossa missão como políticos tornar essa possibilidade uma certeza. Como diz o nosso maestro José Serra, “Política é a arte de ampliar as fronteiras do possível”. Cabe a nós descobrir as oportunidades existentes nessa crise.
Onde os pessimistas vêem apenas riscos, vamos descobrir a oportunidade de unirmos os nossos sonhos, vamos aproveitar a sorte de estarmos juntos e preparados para enfrentar o desafio e vencer a dificuldade.
Quero também dizer que o presidente Lula sabe que não faltará apoio, nem solidariedade nessa luta nacional para minimizar os efeitos da crise em nosso país.
É muito claro, para mim, meu dever de contribuir para que o Brasil tome conhecimento do modelo de gestão que nosso governo oferece, com base na austeridade e na atenção aos mais carentes, na eficiência administrativa e na solução dos mais graves problemas sociais, no trabalho e na transparência.
Na cidade de São Paulo e no Estado de São Paulo, consolidamos atualmente um estilo moderno de governar sem ódios e sem preconceitos, com prioridade para as necessidades das pessoas mais simples e humildes.
Somos uma administração que não fixa o olhar no retrovisor. Procuramos conhecer o passado, para aprender lições, para evitar a repetição dos erros.
Mas administramos com o olhar atento para os compromissos que assumimos, para os grandes desafios que vamos vencer. É essa a proposta que temos a apresentar para o futuro de nosso país.
Como prefeito de São Paulo, cumprirei a missão política de ajudar a provar, para todo o Brasil, que a nossa proposta é a mais indicada, é a melhor.
Na cidade de São Paulo, a responsabilidade é minha. Vamos vencer, com a bênção de Deus e o apoio, trabalho e participação de todos os paulistanos.”